sexta-feira, 7 de agosto de 2009

ELEVADOR



Poderia ser Tóquio, Nova York ou talvez, porque a lua atingira seu plenilúnio, seria noite de equinócio, ainda uma tal, ou, total, conjunção astral, quem vai saber, sincronicidade ou, simplesmente coisas da cidade, a pressa da hora do rush meteu-os juntos no elevador, na descida, trinta e sete andares, o aperto os colocou encostados, contra o fundo, colados, calados, não tiveram como ir contra o contato e, sem querer, sem pensar, a ereção veio forte, fazendo cara de paisagem, ovelha no cercado, contidos por todos os costados, só constam as manobras, as mãos à obra, disposta intenção para sentir do membro a pulsação e, pelo tato, parece de fato um grande falo, falando por si, apontado para o alto, apertado nas pregas, fugindo as regras, querendo romper tudo, sair tesudo e encontrar o caminho do prazer, certos de serem delatados se flagrados mas, que situação, dar ciência ao outro da anuência, da conivência, diante dos fatos, ir a favor, ninguém mais cabe, nada a fora fala, suspensos, supressos, espremidos, contidos, todos na ânsia de que a viagem seja breve, brecados na jornada ao conhecido caminho ao lar, como gado, imprensados no brete, mas enquanto isso, omissos dos compromissos vindouros, ouro de encontro, confronto caloroso, quente, gostoso, cheiroso, o corte do cabelo na nuca à mostra dando ganas de lamber, de meter o dente na orelha, vista assim por de trás, trás à ponta da língua saliva e silentes sílabas a serem sussurradas, obscenidades, sacanagens a serem vivenciadas, viris verdades brotando ingênuas à mente, frementes, indiferentes ao abrir e fechar entre andares, próximos demais para desperdiçar o atiçado facho, o fetiche da gola da camisa engravatada, o paletó, de corte justo, evidenciando os ombros largos, o perfume suave de madeiras liberando labaredas para o fogo que os faz vibrar em uníssono, submissos a imperiosa atração que os cola, mela, enrijece e ao mesmo tempo amolece as pernas, permanece mistério, de que minério será feito o outro, ouro, aço e, o que faço, que rosto terá, o hálito, qual o gosto, logos à parte, o logo, a imperiosa premência de se terem, a urgência fazendo o corpo calcar partes vitais, válidas à demência de se tomarem ali mesmo, no ato, atacar com tudo, tomar de assalto, chamar alto, pressionar o peito, colar a boca na boca, engolir a língua, beber a saliva, nada alivia, silva, sua, clama a alma alterada, a deflagrada pólvora que em polvorosa os incendeia permeia a loucura e, o elevador, acionado em todos os andares a parar e continuar, sem fim, sem tréguas, sem guarida a desabrida intenção de meter a mão a dentro, dar asas ao desejo, seguir o ensejo, ficar frente a frente, enfrentar cara a cara e deixar que encarem as gentes, pendentes, que ali vão dois que não conseguem conter a fúria, que em chamas abrem-se em chagas, chamam-se os corpos fogosos, fragosos, de difícil escarpa, contém-se a custo, a contragosto engolem o desgosto de não poderem se possuir, nem se permitirem meter-se a dentro, darem-se ao desfrute de comer o fruto do gosto de serem ali mesmo unha e carne, em carne viva, clamando calma a todos os poros, pedem muda clemência, paciência, pois o elevador está chegando ao térreo, a férrea ereção precisa ser contida, para que cabida na situação, sitiada, situe os dois dentro do cabível, o aceitável, e que acatem a espera, cabais, que chegará a hora em que a fera irá a forra, ao meter-se à fora, abertas as portas, acorrem ao lobby, livres, ao largo, largados no saguão, sem hesitar, dão-se as mãos, sabem o que querem, o êxito, exultantes saem a rua, em acordo tácito, metem-se juntos dentro de um táxi, tomam um rumo, rimam o verbo amar.

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