domingo, 19 de julho de 2009

sábado, 18 de julho de 2009

DOMINGO



Da varanda do loft no décimo andar, viu espraiada a movimentação do Domingo na areia, chamando, berrando sol, cerveja, mar, quem sabe o que mais, talvez seja o dia de encontrar um amor.
A paisagem estava ali há já imemoriais eras, mas era o primeiro assim com tudo em cima, por cima, zunindo no lugar, luzindo a novo, a ser inaugurado, apartamento, praia, ele, tudo tinindo, pronto, vida nova.
Vendo assim em ótica de ânimo disposto, ânima refeita de refregas passadas, lavadas no sal das vertidas lágrimas, labuta árdua esquecer e reerguer dos escombros os ombros sobrecarregados, levantar as vigas, os pilares do que agora está pronto para viver em plenitude, cheio de atitude, fechada a porta do apartamento e acionado o elevador se vê de corpo inteiro no espelho do hall, nada mal, pensa, 35, sarado, solteiro, os cabelos no lugar, os poucos pêlos pelo corpo, o protetor no bronzeado leve, a bermuda surf, a camiseta no tom, a sandália, todo bom, conclui.
A porta do elevador abriu, entrou, inspecionando no reflexo triplicado nas espelhadas paredes o cara refletido, parado na dele, se reconhece outro, ele mesmo renascido, revivido, revisto em primeira vez, estranho benvindo aos olhos que o vêem.
O elevador para, abre a porta, entra um garoto, prováveis 25, vestindo mesmo estilo, cumprimenta como conhecido.
- Você é o novo morador do prédio, diz afirmando, eu o vi algumas vezes durante as obras lá em cima. Fui algumas vezes lá, falei com os operários, conheço um pouco do seu apartamento, antes de ficar pronto. É um loft, né? Tenho curiosidade de vê-lo agora que está concluído. Eu me interesso pôr arquitetura, estou fazendo a faculdade. Eu sou Lauro, e vc?
- Dante. Sou advogado. Terei prazer em mostrar como ficou a reforma. Você vai a praia aqui em frente?
-Vou sim, fiquei de encontrar com uns amigos, mas podemos marcar pra quando você puder.

Diante de tanta cordialidade, não há aí nenhuma insinuação, só camaradagem, uma abordagem coloquial, um modo de passar o tempo durante a viagem, nem passa pelas idéias as idéias que o autor da história prepara para eles. Mas não vamos antecipar os lances, por mais que o leitor alcance e preveja o enredo, não subestime a capacidade que as pessoas tem de surpreender ou mesmo de serem surpreendidas pelo inusitado com que as nuanças se precipitam, se apresentam ou nos tentam quando menos se espera e nem se pensa nisto.

A claridade da calçada ofuscou a miragem que instantes antes deles se apossara, mesmo que nem tivessem em conta, estavam encantados. Tinham esta faculdade, a sensibilidade apurada.
Atravessaram as pistas lado a lado, pisaram na areia quente com o mesmo pé.
- Olhe lá meus amigos, venha que vou te apresentar a eles. Você joga futvolei?
Apresentados, todos bem apessoados, aficionados formam uma roda a trocarem passes, lançando a bola.
Bolados, os dois, bolem na imaginação, um do outro, imagens antes não pensadas, vindo avassaladas, sendo invadidos de uma forte atração exercendo seu poder, apoderada, sem ponderação nem meio termo, internada.
Mareados com a onda, se jogam no mar, atravessam ondas, ondeiam ares de que não se importam mas, uma porta se abrira, aportaram a beira de um precipício, o início vertiginoso de uma viagem sem volta.
Voltam a camaradagem, freqüentam uma roda de capoeira formada na areia, batendo palmas rodeiam-se, enredam-se, ensaiam passos da dança-luta, leveza de força bruta, magnetismo animal margeando os movimentos graciosos, olhos nos olhos, avanço e recuo, musculaturas túrgidas, lentos, rápidos, ríspidos, retaliação de parte a parte, avaliação, revelam-se mestres na arte, saltam, dão pernadas, rasteiras, se exibem, abrem a roda, rodam gingando, girando, bambeando, bambas cedem a vez a outros camaradas.
Sem mais noção de continuação, negando o inusitado agindo descontrolado, deslocados, voltam à água, mergulham, saem rebrilhados, luzidios, respingando ouro puro param ao sol, solícitos de pensamentos lícitos, válidos ao momento, vasculham o entorno, concordam com coco, bebem a água, se apresenta um oco, devolvem as cascas sem comer a polpa, em palpos, translúcidos se enxergam pelados, expostos, postos a nu aos olhos do outro, transitivos transitam, transladam olhando para os lados, ao longe, procuram situar o sentido, evitam o olhar, alheiam-se, ausentes dizem tchau, até mais, tocando as mãos, passa lá e, aos amigos, até mais, valeu o voleio!
De volta ao prédio, perdido dentro do elevador, sozinho, dando tratos à bola diante do ocorrido, Dante analisa, sem lhe acorrer socorro no que parece estar vindo em sua direção, uma aberração, uma ereção, um tesão na intenção do que parece ser errado, o lado obscuro, o que nunca tinha agido nele, nunca fora por ele, não sabia explicar o que não tinha aplicação prática, nem em sonhos se vira atraído ou atracado com outro macho e acho que este papo tem que se encerrar por aqui, e ponto.
De pronto o elevador de serviço pelo qual subira abriu a porta no seu andar, e nem bem ele começou a andar em direção a porta ouviu o interfone estridulado chamando. Abriu, entrou, fechou, atendeu. É Lauro, posso subir? Dormente, estremece, fremente permanece uma fração fora do ar, arfa, falta o ar, some o chão, só consegue sussurrar, sim.
Fibras afloradas olha à roda, roda ébrio pelo salão, sai bicando quinas, pesquisa gavetas a procura de achar algo, busca o quê possa estar fora do lugar, ter em que se segurar, atônito, em transe entre o que sabe e o que poderia ser que viesse acontecer, que pode ser só fantasia, ri sem saber de que, escolhe um cd entre tantos, a esmo, a música enche o ar, arde de uma febre desconhecida, sua, sai à varanda, vara com o olhar o mover na praia e tudo paira parado boiando em suspensão, súbita a campainha sibila, vai abrir em suspense, tenso, suspenso com as suspeitas e, seduzido não dá outra, atração e reação, mão na mão se puxam, ato contínuo, de cara atracam-se sem pejos num beijo de querer entrar casa a dentro, adentrando a vida, o corpo, a morada da alma, a imaginação nas línguas percorrendo os céus das bocas flutuando soltas num céu claro de horizontes longínquos e distantes do que tinham sido já não mais sabem o que eram, o que foram, reflexivos, deflexivos são agora o que deflora, deflagrados nas mãos do outro, músculos, másculos, ásperos, rudes arrancam bermudas e cuecas úmidas em arroubo, rentes peles com areia arranhando as línguas salgadas de mar e suor, selvagem voragem de querer se internar, alternando-se beijam lambendo roçando, descobrindo vertentes, várzeas, vasas, asas abertas para desbravar segredos revelados nos recuos arrepiados, nos gemidos incontidos, incontáveis toques refletidos, tal luta de titãs, tratando sem dó a vergonha de entregar ao outro o prazer que quer pra si, sendo o outro, se atrevendo em ser o macho, a fêmea, famintos, com a fome dos sem nome, os sem teto, tateando limam-se no limbo, levitados, enlevados, levados além do que sabem se chamam pra briga, abrigando amigos a desbragada tesão, resvalando nos escorregadios limites do conhecido, reconhecidos iguais dão-se pôr inteiro, se entregam, ganham-se, metem-se a dentro, mesmo que doa, doam-se de parte a parte, artes de mestres, artífices, arietes em riste, arteiros ardem num fogo que nunca experimentaram, apimentam o que tem domínio, demoram-se em momentos de experts, espertos apertam, apressam, premem, se presam caça e caçador se prezam, percutem, recuam, refutam, refregam, esfregam, esfolam, forçam, forcejam, resfolegam, rolam, enrolam-se, roncam, rompem-se amorais, imolam-se imorais, amorosos, demorados vazam, extravasados gozam em eco.

Escurecera, o dia virara noite, anoitecera, nem se deram conta do que sucedera, sucumbidos ficaram deitados, contando dedos, catalogando dados significativos, indicativos caminhos traçados com mágicas linhas sobre as peles, apelando para os trânsitos nos quais seus mapas astrológicos tropeça, o que se passou, perpassado e não há nada além dali, deles, neles, o mundo inteiro é agora ali, em seus corpos acalmados, acasalados, acastelados nos braços acamados sobre o macio tapete felpudo, mansas falas, as salas de suas mentes planando acima do bem e do mal, mal levando em consideração o fato de ser a primeira vez dos dois, se disseram, constrangidos ao ato de terem reagido ao impulso do pulso do momento imperioso, mas que orgulhosos, agora, sentem pleno entendimento e que tem conhecimento de ser aquilo mesmo que querem, que é o que sempre quiseram encontrar, mesmo sem saber de antemão e mesmo que vá na contramão da lógica vigente, sentem, sabem, isto é amor que, sem contrato, concordam, é pra ser levado de fato, adiante, a durar, a dois.

domingo, 12 de julho de 2009

NA ACADEMIA



Se encontram na academia como se ajustados os fusos horários, armadas as mesmas séries, sérios, alternam-se nos aparelhos, dividido-os a intervalos e, sem resvalos, criada a cumplicidade, um auxilia o outro com os ferros, ferrando-os com mais pesos, alçando-os para alcançar ao outro os halteres.
Exibem na frente do espelho as formas que se avolumam em bíceps, deltóides, os grandes peitorais, o reto anterior do abdome.
Sem deixar que o outro perceba, olham-se, a espelharem no outro a construção do físico que querem para si, se parecem, assemelham espartanos, atlantes, extasiam-se mutuamente pôr breves instantes, competentes complementos competem calados, aliás, poucas palavras trocam, provocam reações.
Chegam em automóveis novos, potentes, reluzentes, orgulham-se de suas máquinas, símbolos de seus sucessos, deixam-nos no estacionamento, saindo deles clicando os controles remotos, vestidos nos seus ternos bem cortados, sóbrios, solenes, trazendo na mão uma mochila, o que toa como um toque de aventura.
No vestiário despem-se, ritualísticamente, lentos, ao som da voz de Mick Jaegger cantando Anybody seen my baby?, trocando a capa da formalidade pelo jovial esportista, modernos, antenados com seu tempo, contemporâneos.
Nos aparelhos, compenetrados, cientes da ciência que professam, suam, gemem, bufam, arfam, torcem, empurram, puxam, num esforço voluntário de construir um perfil másculo, viril.
Conhecem já os corpos opostos, exposta cada curva, a volumetria, a simetria das formas, os pêlos, os cheiros, os sons.
Parecem ser tímidos mas, são éticos, áticos.
Atiçados pelo outro, atinam-se, atem-se em conjecturas, em suas costuras alinhavam um atilado retrato do que se atrevem entrever no que o outro transborda mesmo não querendo invadir a intimidade alheia, admiram-se.
Silentes, on the shower, (to lather side by side) ensaboam-se lado a lado, deixando a água, abundante, espumante, escorrer pelas peles, entrefechando os olhos, como se não vendo, abrem-se num show, exibição para a visitação ( top, top secret, only for your eyes) dos olhos do outro, demorando-se, derramando-se em esmeros, acrescentando temperos, para o destempero, o desespero do outro, já entrando em transe, transido, tremente, temente de que o outro perceba e vexado se evada, já vazando, extravasando o vigor acumulado, dada a urgência grunhe engolido pedido de clemência por não ter podido evitar, vibrando todas as fibras, na fímbria.
No vestiário, espalham pelo corpo generosa camada de creme hidratante, tratantes de entrar nos recônditos, recondicionando o tônus das peles plenas de juventude, atitude, intenção, atem-se aos detalhes do trato, tratam-se bem, beneficiam-se de serem bem nascidos, bem dotados, calçam-se pelo mesmo pé, cuecas, meias, camisetas, jeans, sapatos, jaquetas, como se tivessem combinado, cambiam-se para a balada.
Sabem, e nisto consiste a arte, atear o fogo, fagueiros, falseando a verdade volante de volúpia
Mesmo que desabada, desacreditada, a armadura de novos centuriões, guardiões da máscula vestidura de que são investidos, mantém a pose, posam convictos.
Ficam assim instigados, instados a futuros contatos no confronto de parte a parte.
Contidos, aspergem-se perfumes.
No estacionamento perdem-se.
Partindo, penetram a noite a procura dos prazeres permitidos.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A QUEDA

Solto o corpo no banco estofado em frente a mesa no bar, barra pesada, arrasado com a queda da Bolsa, deixa cair a bolsa com o inseparável lap top ao lado no banco, banca de executivo, exausto, tombando para trás, trazendo as mãos da nuca a fronte a querer rasurar os pensamentos em avalanche, antes de atinar um lance que o aprume, rume ao sucesso despencado, atirado em queda livre num bungee jump suicida, decida enquanto o celular não soe no encalço a me procurar para o cadafalso, Messias de araque, Mandrake sem mágica, arrisquei em falso, apostei em encantar serpentes, fui picado com a pica que quis meter nos outros, ao aplicar o dinheiro de outrém e que porcaria de vida agida assim no risco, no fio da navalha, canalha, supor-me Deus, Mago, e que estrago, somente um trago, uma dose de cicuta ou que vá tudo a puta que o pariu e fujo pro Hawai, um haraquiri, um Daiquiri, vida kamicaze, por um quase nada me dou bem, a fairy tale sem final feliz, foi por um triz, mais alguns dias teria meu primeiro milhão, agora tenho que me danar feito um cão coçando a sarna, sem armas serei preso, enjaulado, verei o sol nascer quadrado, arcar com o peso da responsabilidade de não ter tido a habilidade de manobrar a crise antes que ela me atingisse feito descarrilado trem bala, porque não se cala esta fala derrotista e qual é do artista, o cara sorrindo, levantando o copo em minha direção numa saudação, um brinde ao quê meu Deus, a minha derrota, que marmota é essa, rindo assim da minha desgraça, palhaço sem graça, não tá vendo que estou acabado, arrasado, um trapo estirado ao chão, só falta agora a cavalaria, a tropa de choque ou um tanque de guerra me jogarem por terra, esmagarem meu corpo, moerem meus ossos, como posso sorrir de volta, vala comum para meus restos, indigente, indigesto desgosto, só o gosto da ruína, a rua da amargura, dando largura no nó da gravata o grande gole de whisky desce frouxo, maneia os ombros, abre os botões da gola da camisa, tira o paletó, joga-o de lado, levanta o dedo em sinal de uma dose, desce de golada, galante outra vez, outra garçom!, e a vida já não parece tão sombria, sobram luzes no horizonte, vindo uma ponte, I want to piss, stand up passa trôpego rente ao cara que sorriu o brinde e esbarra-lhe o braço que leva o copo a boca virando o conteúdo na camisa engravatada, que maçada, sorry, sorri, desculpa, garçom um pano!, deixa que eu limpo!?, foi sem querer, é melhor lavar, vamos até o banheiro!, descem os dois os degraus ao subterrâneo, diz: tira a camisa!, take off while I do a piss!, enquanto tira a água do joelho, vê pelo espelho o outro vindo para o lado, olhando-o tocado, tocando-se, dar vazão ao dourado líquido com visível prazer, estendida mão a molhar no jorro quente e já mãos se tocando, trocando faíscas que o álcool logo incendeia, se puxam, se pegam, se pregam num beijo salivado, linguado, longo e logo vão percorrendo vãos, abrindo botões, caminhos de carinhos, mãos correndo velozes corpo a fora em direção a intenção do outro, fora de si, só senso, sentindo o tesão do outro, se empurram ao reservado, sem reservas se revezam em resvaladas carícias, lambidas nos mamilos, mordidas na nuca, manuseando o falo alheio, alheios ao mundo internam-se bocas, abocanham, se alternam em chupar, morder, lamber, dedos procurando ocupar vazios, visivelmente excitados não exitam em baixar as calças, as cuecas, calcando centímetros de pele, pelados apalpam-se, apoiam-se à parede, põem-se em posição, penetram-se, perdem-se em idas e vindas descontroladas, desmedidas, a medida do pênis, entrando e saindo, arfando, gemendo, dor e prazer, prazer e dor dando vazão, dominador dominado, dominado dominador, inominado fluxo e refluxo, domando a ânsia de querer preencher, ser preenchido, corrompidos laços com a realidade, na verdade rompem regras, rasgam linhas divisórias, dadivosos dançam, dão-se, avançam e recuam fronteiras, quase a beira da loucura, a cura para todos os males, males, machos se acham, acham-se, chamam-se na cincha, cingem-se danados, tomados, possuídos de tentáculos tântricos, telúricos, trogloditas, túrgidos, rígidos, rentes, rítmica variação para trompete e trombone, me come, me vara, que vara! bate na cara, cara! caralho que foda! Fode! Foda-se tudo quero o prazer. Azar de quem não faz, me dá teu beijo! Quero ser teu! Cabe no meu abraço. O que faço agora, é chegada a hora. Ora, vamos juntos! Justapõe movimentos a quase violência, a total urgência, rugem, rijos, ritmados, tensos, tesos, tesudos, totalmente intencionados se internam, se integram, se entregam, dão vazão a enorme tesão, extrapolam, extravasam, gemem, ganem, vertem! Apolos gozam! Ainda convulsos se tiram. Já avulsos, centímetros distantes, se medem, se olham ridentes, atem-se, atinam-se, sentem ter criado um vínculo, uma vírgula na vida. Vestindo-se, se vigiam a saberem a intenção, se vale só dizer um valeu, tchau, nem isso ou, por isso, vamos tomar um drink juntos, provocar um assunto que nos leve além, vem!