sábado, 17 de outubro de 2009

DIFERENÇAS



Como queria que as mínimas diferenças que venho notando no comportamento do meu companheiro compusessem um momento a parte e não fizessem parte do que pressinto ao notar coisas anormais nas mais leves atitudes ou antes virtudes como querer
encochá-lo e ser repelido no revirado do sono e a pretexto do pretenso calor calado sair da cama expelido suspirando comprido para ir tomar um ar na varanda varando a clarear a madrugada fria filetando de luz o ar como um farol alumiando o breu abrindo clarões indo e vindo de um lado para o outro fumando um cigarro aceso na guimba do anterior atraindo o vício que outrora abortara como se prisioneiro em fuga beirasse um precipício na indecisão de alçar vôo precipitando-se pelo beiral de braços abertos no breve vazio espaço entre prédios perdendo preciosos segundos de carinho no caminho
demorado ao voltar ao aconchego chamando em sonhos um estranho cujo nome se enreda entre as dobras dos lençóis e some feito fantasma que se evade desfeito na luz da alvorada como o perfume que se ala volátil veloz desprendido da memória olfativa frívola mas persiste ao voltar insistido no rever pôr instantes a imagem amorosa da boca retribuindo um beijo



no inesperado abraço segurando o corpo do outro durante o ato desmedido metida língua a dentro dando ciência e seqüência ao ensejo de serem um só corpo corporificando em gloria o fato de poderem estar juntos e exercerem o direito de serem felizes pôr se terem como amantes amigos amparados no abrigo construído em conjunto puxando assuntos pertinentes ou se fazendo impertinente provocando risos sendo raso ao repetir obscenidades de rareada zanga zangão zagueiro nada esconde nem se esgueira tudo trás as claras cara de poucos amigos aos comprometidos exercícios diários rosário desfiado de incontáveis abdominais abominando as intermináveis corridas na esteira estirando músculos pôr quilômetros sem sair do lugar tudo para abrigar um corpo saudável ou uma aparência que deixe seu parceiro orgulhoso guloso ao comer marshmallows melando os dedos na gula das noites de gala dois galos bebendo no gargalo dois falos firmes falando forte você é meu eu te amo meu macho e se achando inteiros ao se terem tomam-se plenos tramando pernas palmos de planos passíveis de futuro e só isto bastaria para que a noite parasse e que a certeza daquilo que você teria pra me dizer estancasse e não soasse e de nossas bocas sussurrantes saíssem apenas sons do amor correspondido comprometidos ditos de louvor mas agora esgotado o ato farejo no ar arfado que pelo furo entrevisto na disfarçada presença ausente faz sentir que por trás do rosto outro gosto se abriga brigando com a face escondida pela máscara como se a casca fosse a verdadeira cara do cara culta séria sisuda que diz tudo o que a de trás traz estampada estática estratificada caduca oculta o amigo o amante o irmão a alma gêmea que me fez gemer entre gozos como se últimos fossem fazendo satisfazer os desejos de um condenado apenado à morte já próxima a execução final e afinal o que houve ouça se calas consentes em um novo consórcio um outro conluio perjurando as juras puras assentidas mesmo não assinadas assassinando o compromisso sendo permissivo com o alheio pôr quem sabe apenas um enleio de corpos um simples carpe diem dando margem para que a mágoa se instale nublando aquilo que foi fazendo fustigar com o látego da dúvida a lógica da certeza do que fomos somos fórmula comprovada dádiva dada a apenas alguns seres abençoados abraçados pôr vontade própria e ajuntados no intento de sermos todo complementos e que os momentos que vivemos serão nossos pela eternidade atestado a raridade do sentimento no instante em que estamos aparentemente nos separando soprando para longe o perto o próximo provocando a dissensão a dissolução do acordo nos acordando para a realidade a verdade de que a partir de agora somos não mais nós apenas sós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário