domingo, 12 de julho de 2009

NA ACADEMIA



Se encontram na academia como se ajustados os fusos horários, armadas as mesmas séries, sérios, alternam-se nos aparelhos, dividido-os a intervalos e, sem resvalos, criada a cumplicidade, um auxilia o outro com os ferros, ferrando-os com mais pesos, alçando-os para alcançar ao outro os halteres.
Exibem na frente do espelho as formas que se avolumam em bíceps, deltóides, os grandes peitorais, o reto anterior do abdome.
Sem deixar que o outro perceba, olham-se, a espelharem no outro a construção do físico que querem para si, se parecem, assemelham espartanos, atlantes, extasiam-se mutuamente pôr breves instantes, competentes complementos competem calados, aliás, poucas palavras trocam, provocam reações.
Chegam em automóveis novos, potentes, reluzentes, orgulham-se de suas máquinas, símbolos de seus sucessos, deixam-nos no estacionamento, saindo deles clicando os controles remotos, vestidos nos seus ternos bem cortados, sóbrios, solenes, trazendo na mão uma mochila, o que toa como um toque de aventura.
No vestiário despem-se, ritualísticamente, lentos, ao som da voz de Mick Jaegger cantando Anybody seen my baby?, trocando a capa da formalidade pelo jovial esportista, modernos, antenados com seu tempo, contemporâneos.
Nos aparelhos, compenetrados, cientes da ciência que professam, suam, gemem, bufam, arfam, torcem, empurram, puxam, num esforço voluntário de construir um perfil másculo, viril.
Conhecem já os corpos opostos, exposta cada curva, a volumetria, a simetria das formas, os pêlos, os cheiros, os sons.
Parecem ser tímidos mas, são éticos, áticos.
Atiçados pelo outro, atinam-se, atem-se em conjecturas, em suas costuras alinhavam um atilado retrato do que se atrevem entrever no que o outro transborda mesmo não querendo invadir a intimidade alheia, admiram-se.
Silentes, on the shower, (to lather side by side) ensaboam-se lado a lado, deixando a água, abundante, espumante, escorrer pelas peles, entrefechando os olhos, como se não vendo, abrem-se num show, exibição para a visitação ( top, top secret, only for your eyes) dos olhos do outro, demorando-se, derramando-se em esmeros, acrescentando temperos, para o destempero, o desespero do outro, já entrando em transe, transido, tremente, temente de que o outro perceba e vexado se evada, já vazando, extravasando o vigor acumulado, dada a urgência grunhe engolido pedido de clemência por não ter podido evitar, vibrando todas as fibras, na fímbria.
No vestiário, espalham pelo corpo generosa camada de creme hidratante, tratantes de entrar nos recônditos, recondicionando o tônus das peles plenas de juventude, atitude, intenção, atem-se aos detalhes do trato, tratam-se bem, beneficiam-se de serem bem nascidos, bem dotados, calçam-se pelo mesmo pé, cuecas, meias, camisetas, jeans, sapatos, jaquetas, como se tivessem combinado, cambiam-se para a balada.
Sabem, e nisto consiste a arte, atear o fogo, fagueiros, falseando a verdade volante de volúpia
Mesmo que desabada, desacreditada, a armadura de novos centuriões, guardiões da máscula vestidura de que são investidos, mantém a pose, posam convictos.
Ficam assim instigados, instados a futuros contatos no confronto de parte a parte.
Contidos, aspergem-se perfumes.
No estacionamento perdem-se.
Partindo, penetram a noite a procura dos prazeres permitidos.

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